Swanwick e a pluralidade do discurso musical
Por Rosangela Lambert
Keith Swanwick (1931), pesquisador e educador musical inglês, estudou trombone, piano, órgão, composição e regência em um dos mais aclamados conservatórios do mundo, o Royal Academy of Music, em Londres. Tem vasta experiência como regente, organista e músico de orquestra.
Foi editor do British Journal of Music Education, com John Paynter; o primeiro presidente da British National Association for Education in the Arts; chefe do Music Education Council (Inglaterra); professor visitante na Universidade de Washington e professor conselheiro no Instituto de Educação de Hong Kong.
Keith Swanwick (1931), pesquisador e educador musical inglês, estudou trombone, piano, órgão, composição e regência em um dos mais aclamados conservatórios do mundo, o Royal Academy of Music, em Londres. Tem vasta experiência como regente, organista e músico de orquestra.
Foi editor do British Journal of Music Education, com John Paynter; o primeiro presidente da British National Association for Education in the Arts; chefe do Music Education Council (Inglaterra); professor visitante na Universidade de Washington e professor conselheiro no Instituto de Educação de Hong Kong.
Participou de diversos encontros internacionais de música, ministrando cursos e palestras na Nova Zelândia, Austrália, Finlândia, Suécia, Noruega, Holanda, Espanha, Canadá, Singapura, Portugal, Estados Unidos e Brasil.
Reflexões acerca do valor da música
Swanwick defende que é essencial uma reflexão para o significado da música, sobre sua natureza e o valor da experiência musical. Ele adverte que “falar sobre música como se ela fosse uma coisa simples e única é correr o risco de subestimar sua força potencial e infinita variedade.”
Segundo ele, a música pode ser definida a partir de três condições interligadas, sendo que cada uma, isoladamente, é insuficiente: a seleção de sons, a relação entre os sons e a intenção de que os sons se tornem música, ou seja, o material sonoro carregado de sentido, gerando uma resposta estética, a qual alimenta nossa imaginação. Ele afirma:
Em seus estudos e reflexões, Swanwick aborda que a música, em sua forma simbólica, representa um discurso, imbuído de significados, promovendo sensações e sentimentos. Nesta perspectiva, ele usa o termo “metáfora” para exprimir um processo que é dinâmico e que está subjacente a todo o tipo de discurso. Ele explica:
“A palavra ‘metáfora’ é, naturalmente, originada do grego antigo: ‘meta’ indica tempo, lugar ou direção, enquanto ‘phéro’ significa levar. ‘Metaphorá’, então, literalmente significa transporte de um lugar para outro.”
Partindo desta reflexão, ele sustenta que o processo metafórico musical acontece em três níveis cumulativos:
– Notas são ouvidas como melodias: escutar sons como música exige que desistamos de prestar atenção nos sons isoladamente;
– Melodias são escutadas juntas, gerando novas relações e a música “parece” ter vida por si própria;
– A música informa a “vida do sentimento”, despertando o forte sentido de significância.
O esquema abaixo ajuda a compreender melhor o processo metafórico musical proposto por Swanwick:
Princípios da Educação Musical
Para Keith Swanwick, uma visão de música como uma forma de discurso impregnada de metáfora tem consequências para a educação musical. Ele afirma:
“O propósito da música não é, simplesmente, criar produtos para a sociedade. É uma experiência de vida válida em si mesma, que devemos tornar compreensível e agradável. É uma experiência do presente. Essas crianças estão vivendo hoje, e não aprendendo a viver para o amanhã. Devemos ajudar cada criança a vivenciar a música agora.”
Ele propõe dois modelos de ação para o ensino de música: a “Teoria Espiral do Desenvolvimento Musical” e o “Modelo Compreensivo da Experiência Musical”, denominado C(L)A(S)P.
Teoria Espiral do Desenvolvimento Musical
Esta teoria dialoga com os pressupostos teóricos da teoria construtivista lançada por Jean Piaget, que procura apresentar as diversas fases de construção do conhecimento. Swanwick elabora a espiral de desenvolvimento articulando atividades musicais e as suas influências no processo de aprendizagem da música, o qual deve respeitar o estágio em que cada aluno se encontra e propor atividades que lhes propiciem experiências musicais.
A aquisição de um novo conhecimento acontece quando ocorre o “desequilíbrio” quanto à conceituação de algo já conhecido. A partir de então, ocorre o processo de assimilação. Quando este novo conhecimento é interiorizado e passa a fazer parte do sujeito, ocorre a acomodação do conhecimento musical. Este sujeito que assimila, acomoda, adapta, readapta, integra a si novos conhecimentos.
Sua abordagem procura alcançar as várias facetas que envolvem o processo de aprendizagem musical.
A figura abaixo possibilita a visualização não apenas das etapas de desenvolvimento musical, mas também um movimento que ocorre da esquerda para a direita e que se repete em quatro níveis, correspondentes às voltas da espiral.
Modelo Compreensivo da Experiência Musical – C(L)A(S)P
Este modelo propõe cinco parâmetros de atividades musicais que devem abarcar a educação musical:
C = Composition (composição);
L = Literature Studies (literatura sobre música);
A = Appreciation (apreciação);
S = Skill Aquisition (conhecimentos e habilidades sobre música);
P = Performance (execução).
O modelo sugere que o professor deve trabalhar a música de forma equilibrada e integrada. No entanto, as atividades de Composition, Appreciation e Performance (CAP) desempenham papel primordial na educação musical, pois constituem as possibilidades fundamentais de envolvimento direto com a música, enquanto os outros dois, Literature e Skill, desempenham papel de suporte. Assim, o modelo busca enfatizar o que é fundamental e o que é periférico, propondo uma hierarquia de valores e objetivos.
Vale lembrar que a composição inclui todas as formas de invenção musical, desta forma, a improvisação também é compreendida como “composição” no modelo proposto por Swanwick.
Ao professor atento, cabe propor atividades que possibilitem equilíbrio e interligação entre as propostas do CLASP. Isto não quer dizer que os cinco parâmetros do modelo devam estar presentes em todas as aulas, mas que o professor não elabore seu planejamento de forma desproporcional, lembrando que uma educação musical abrangente propicia maior engajamento com a música.
O modelo CLASP no Brasil
Keith Swanwick esteve no Brasil cerca de 15 vezes, a última delas em novembro de 2010. Seu modelo CLASP é parte integrante de currículos de cursos de Licenciatura em Música e em cursos livres, como oficinas, palestras e workshops. No entanto, levando-se em conta as dimensões de nosso país, pode-se dizer que é ainda é pequeno o âmbito de alcance de suas propostas pedagógicas.
Livros de Swanwick publicados no Brasil
- Ensinando Música Musicalmente (Moderna, 2003)
- Música, Mente e Educação (Autêntica Editora, 2014)
Publicado originalmente no blog Terra da Música