Educadores Musicais: uma reflexão comparativa de suas abordagens

Por Rosangela Lambert

Educadores musicais

De maneira geral, pode-se dizer que o século XX foi marcado por mudanças que tiveram impacto significativo em vários aspectos da vida humana, quer no campo intelectual, social, artístico e também educacional. Com o crescimento acelerado das cidades e da indústria moderna, houve o reforço do coletivismo e o ensino focado nas massas.

Os métodos ativos – alguns dos quais abordados em nossos artigos – que surgiram durante o século XX apontam para a preocupação em contribuir para que todos tenham as mesmas oportunidades de acesso à linguagem musical de maneira eficaz e ao mesmo tempo, prazerosa.

Opera – Paris, cerca de 1930.

Ressalta-se, no entanto, que embora chamados métodos ativos, nem todos são, na verdade, metodologias de educação musical, mas propostas e abordagens que facilitam e democratizam o aprendizado musical.

Nota-se que todas as abordagens aqui expostas, embora diferentes, descartam a aproximação do educando com a música priorizando a técnica ou a teoria, ao contrário, esta se dá pela vivência e experiência pessoal de cada aluno.

Pode-se afirmar também que, em cada uma destas pedagogias, há a valorização de um determinado aspecto em detrimento de outro, isto é, para alguns educadores, como Dalcroze e Orff, o corpo tem papel mais relevante no ensino musical, enquanto que, para outros, como Kodály e Willems, a prática do canto é mais relevante que a prática instrumental e, ainda, para outros, como Koellreutter e Schafer, a escuta ativa e a improvisação é o centro da educação musical. Da mesma forma, nota-se significativa diferença com relação ao repertório e material utilizado, como por exemplo, canções folclóricas, repertório tradicional europeu, repertório contemporâneo, novos sons (ruídos e sons antes considerados como “não musicais”), novas formas, texturas e possibilidades de uma “nova música”.

Já o educador Keith Swanwick propõe um modelo de educação musical (CLASP)* que abarcaria as propostas destes e outros educadores, uma vez que seu modelo propõe, dentre outras atividades periféricas, atividades de composição, escuta e execução, elencados em uma hierarquia de valores e objetivos.

A seguir, um quadro resumo com as principais características de cada abordagem pedagógica (clique no nome de cada educador para aprofundar):

  EDUCADOR       ESSÊNCIA METODOLÓGICA   RECURSOS UTILIZADOS EXEMPLOS DE ATIVIDADES
Jaques-Dalcroze Busca desenvolver a escuta e a integração entre música e movimento     Corpo, voz e piano Exercícios corporais e vocais
  Kodaly Busca desenvolver a prática do canto coletivo e habilidades de percepção auditiva   Voz Canto, solfejo rítmico e melódico
  Willems Busca desenvolver a acuidade auditiva e o canto coletivo           Voz, sinos e instrumentos de plaquetas Exercícios corporais, de solfejo rítmico e melódico, exercícios com sinos e instrumentos e plaquetas
  Carl Orff                      
Busca desenvolver a expressão, a criatividade e a musicalidade como um todo        
      Instrumentos de plaquetas, de percussão e a voz Tocar e improvisar em grupo, criando frases, ostinatos, perguntas e respostas ou inventando rimas  
   
  Koellreutter                
Busca desenvolver o fazer musical criativo e reflexivo          
        Qualquer estímulo ou material sonoro pode ser utilizado       Jogos de improvisação
Murray Schafer   Busca refinar a capacidade de escuta e desenvolver o fazer musical criativo a partir de sons do ambiente.           Qualquer estímulo ou material sonoro pode ser utilizado Jogos de improvisação, atividades criativas utilizando materiais convencionais ou não
Swanwick              
Busca desenvolver a capacidade de ouvir ativamente, tocar e criar (compor ou improvisar)        
        Corpo, voz, instrumentos musicais convencionais ou não. Qualquer atividade musical que trabalhe de maneira equilibrada os pilares de sua abordagem: a escuta, a criação e a execução.

Publicado originalmente no blog Terra da Música.