Educadores Musicais: uma reflexão comparativa de suas abordagens
Por Rosangela Lambert
De maneira geral, pode-se dizer que o século XX foi marcado por mudanças que tiveram impacto significativo em vários aspectos da vida humana, quer no campo intelectual, social, artístico e também educacional. Com o crescimento acelerado das cidades e da indústria moderna, houve o reforço do coletivismo e o ensino focado nas massas.
Os métodos ativos – alguns dos quais abordados em nossos artigos – que surgiram durante o século XX apontam para a preocupação em contribuir para que todos tenham as mesmas oportunidades de acesso à linguagem musical de maneira eficaz e ao mesmo tempo, prazerosa.
Ressalta-se, no entanto, que embora chamados métodos ativos, nem todos são, na verdade, metodologias de educação musical, mas propostas e abordagens que facilitam e democratizam o aprendizado musical.
Nota-se que todas as abordagens aqui expostas, embora diferentes, descartam a aproximação do educando com a música priorizando a técnica ou a teoria, ao contrário, esta se dá pela vivência e experiência pessoal de cada aluno.
Pode-se afirmar também que, em cada uma destas pedagogias, há a valorização de um determinado aspecto em detrimento de outro, isto é, para alguns educadores, como Dalcroze e Orff, o corpo tem papel mais relevante no ensino musical, enquanto que, para outros, como Kodály e Willems, a prática do canto é mais relevante que a prática instrumental e, ainda, para outros, como Koellreutter e Schafer, a escuta ativa e a improvisação é o centro da educação musical. Da mesma forma, nota-se significativa diferença com relação ao repertório e material utilizado, como por exemplo, canções folclóricas, repertório tradicional europeu, repertório contemporâneo, novos sons (ruídos e sons antes considerados como “não musicais”), novas formas, texturas e possibilidades de uma “nova música”.
Já o educador Keith Swanwick propõe um modelo de educação musical (CLASP)* que abarcaria as propostas destes e outros educadores, uma vez que seu modelo propõe, dentre outras atividades periféricas, atividades de composição, escuta e execução, elencados em uma hierarquia de valores e objetivos.
A seguir, um quadro resumo com as principais características de cada abordagem pedagógica (clique no nome de cada educador para aprofundar):
EDUCADOR | ESSÊNCIA METODOLÓGICA | RECURSOS UTILIZADOS | EXEMPLOS DE ATIVIDADES |
Jaques-Dalcroze | Busca desenvolver a escuta e a integração entre música e movimento | Corpo, voz e piano | Exercícios corporais e vocais |
Kodaly | Busca desenvolver a prática do canto coletivo e habilidades de percepção auditiva | Voz | Canto, solfejo rítmico e melódico |
Willems | Busca desenvolver a acuidade auditiva e o canto coletivo | Voz, sinos e instrumentos de plaquetas | Exercícios corporais, de solfejo rítmico e melódico, exercícios com sinos e instrumentos e plaquetas |
Carl Orff | Busca desenvolver a expressão, a criatividade e a musicalidade como um todo | Instrumentos de plaquetas, de percussão e a voz | Tocar e improvisar em grupo, criando frases, ostinatos, perguntas e respostas ou inventando rimas |
Koellreutter |
Busca desenvolver o fazer musical criativo e reflexivo | Qualquer estímulo ou material sonoro pode ser utilizado | Jogos de improvisação |
Murray Schafer | Busca refinar a capacidade de escuta e desenvolver o fazer musical criativo a partir de sons do ambiente. | Qualquer estímulo ou material sonoro pode ser utilizado | Jogos de improvisação, atividades criativas utilizando materiais convencionais ou não |
Swanwick |
Busca desenvolver a capacidade de ouvir ativamente, tocar e criar (compor ou improvisar) | Corpo, voz, instrumentos musicais convencionais ou não. | Qualquer atividade musical que trabalhe de maneira equilibrada os pilares de sua abordagem: a escuta, a criação e a execução. |
Publicado originalmente no blog Terra da Música.
Gostei muito do artigo, traz clareza e resume a essência da proposta de cada um dos educadores musicais. Parabéns Rosângela!
Que legal que gostou Helder! Tudo se conecta e faz sentido, não é mesmo? Compreender é como uma grande janela que se abre e podemos vislumbrar muitas e muitas possibiidades! Avante!