Kodály e a música como parte da vida
Por Rosangela lambert
Dando continuidade à série “Educadores Musicais”, trazemos um panorama sobre a vida e obra de Zoltán Kodály (1882-1967), educador húngaro, cujo legado permanece no presente.
Compositor, musicólogo e pedagogo, Zoltán Kodály nasceu em uma família de músicos amadores. Cantou no coro infantil da catedral, aprendeu a tocar piano, violino e violoncelo. Em 1898, aos 16 anos de idade, começou a compor pequenas obras apresentadas em seu percurso escolar. Em Budapeste, capital da Hungria, inicialmente inclinado às letras, frequentou a Universidade de Filosofia, Línguas e Literatura. Foi aluno da Academia Liszt de Música, graduando-se em Composição em 1904, aos 22 anos. Após ganhar uma bolsa de estudos, viaja para Berlim e Paris, onde tem contato com a obra de Debussy. Em 1907 torna-se professor de Teoria Musical e Composição na Academia de Música de Budapeste.
Entre 1906 e 1908 viajou com o compositor húngaro Béla Bartók pela Hungria coletando canções folclóricas e infantis. Eles resgataram, entre outros elementos, ritmos e escalas em desuso, que despertaram a atenção. Suas pesquisas resultaram em publicações, consolidando seu nome como etnomusicólogo.
Durante o período de 1910 a 1922, foi diretor assistente da Academia Nacional de Música da Hungria e atuou como crítico musical em uma revista literária chamada “Nyugat” e no jornal diário “Pesti Napló”.
A partir de 1923, aos 40 anos de idade, seus experimentos acabaram por colocá-lo à frente de projetos de ensino musical nas escolas da Hungria. Junto a seus colaboradores, passou a organizar livros e atividades musicais para serem utilizadas nas escolas, a partir do jardim da infância. Seu pensamento filosófico contempla a música como pertencente a todos e como parte integrante da cultura do ser humano. Para ele, as aulas de música devem ser regularmente oferecidas nas escolas, de modo que o apreciar e o fazer musical façam parte da vida do cidadão.
O educador e sua obra
Em suas propostas, uma sensibilização e vivência musical sistematizada sempre precedem o processo formal de aprendizagem de conteúdos musicais. Sua abordagem, a qual viria posteriormente a tornar-se conhecida como “Método Kodály”, é essencialmente estruturada no uso da voz e de um repertório baseado em canções folclóricas. Segundo ele, “a participação ativa no fazer musical é a melhor forma de se conhecer música; o toca-discos e o rádio não são mais do que acessórios”.
Assim, para ele, o canto deve ser introduzido o mais cedo possível e dispensa o uso de instrumentos, pois até os acompanhamentos harmônicos são feitos por vozes. Ele não era contra o aprendizado de um instrumento, porém insistia que o canto deveria preceder ao seu aprendizado:
“Temos que educar músicos antes de formar instrumentistas. Uma criança só deve ganhar um instrumento depois que ela já sabe cantar. A habilidade de compreender música vem através da alfabetização musical transferida para a faculdade de ouvir internamente. E a maneira mais efetiva de se fazer isto é através do canto.”
Kodály desenvolveu 21 livros que integram seu método de educação musical, com exercícios melódicos e rítmicos, incluindo o uso de nome de notas na realização do solfejo melódico, para o sistema “Dó Móvel”*, quer dentro ou fora da pauta musical e para a leitura absoluta; o sistema “Manossolfa”**, com gestos para representar as alturas musicais; e a utilização do sistema de “silabação rítmica”, este último, já existente, instituído por J. Chavé, na França.
Vale salientar que o objetivo do método não é a aprendizagem do conteúdo teórico, mas provocar a experiência musical e desenvolver a capacidade de se cantar com ritmo, fraseado, dinâmica e fluência musical.
O Método Kodály no Brasil
O Método Kodály vigora em seu país desde a década de 1940, inserido no conteúdo escolar dos cursos de 1º e 2º Graus. No Brasil, desde 1986, o compositor e educador húngaro Ian Guest (radicado no Brasil), tem divulgado o método por meio de oficinas em vários estados brasileiros.
Em 1993, a educadora Marli Batista Ávila fundou, em São Paulo, a Sociedade Kodály do Brasil (SKB), filiada à Sociedade Kodály Internacional (International Kodály Society – IKS). Uma importante contribuição da SKB foi a tradução para o português do livro Kodály’s Principles in Practice e a publicação de cadernos de exercícios e material didático destinados principalmente à educação musical infantil. A SKB também oferece cursos de curta duração para educadores brasileiros, por meio do Conservatório Musical Brooklin Paulista, em São Paulo.
* Dó Móvel: caracteriza-se pela atribuição de uma altura aleatória como “tônica” (centro tonal) para a prática do solfejo melódico. Dessa maneira, as notas dó, ré, mi, fá, sol, lá e si são dados para os graus da escala, em qualquer tonalidade maior e sua relativa menor.
** Representação imagética do sistema Manossolfa:
Publicado originalmente no blog Terra da Música.